Um erro bastante comum ao medirmos velocidades relativas pode ser ilustrado pelo que ficou conhecido como sendo o Paradoxo do Estádio.
Proposto pelo filósofo grego chamado Zenão (500 – 451 a.C.) esse foi um de seus quatro paradoxos pensados por ele, com o intuito de tentar explicar a noção de movimento.
A versão original desse Paradoxo utilizava fileiras de guerreiros. Para deixarmos mais fácil de entender usaremos como exemplos fileiras de letras que encontram-se em movimento relativo.
Imagine três fileiras de letras paralelas que podem se deslocar em qualquer sentido.
AAA
BBB
CCC
Agora suponhamos que a fileira formada apenas pelas letras Bs, desloca-se com velocidade constante para a direita. Movendo-se com igual velocidade mas de sentido contrário, a fileira formada pelas letras Cs faz o mesmo. Enquanto isso ocorre, a fileira formada pelas letras As permanece em repouso.Passado algum instante de tempo seria possível encontrar uma configuração como a representada abaixo.
AAA
BBB
CCC
O tempo decorrido para que a fileira das letras Bs ultrapassasse a fileira das letras As, poderia ser facilmente calculado da seguinte forma
Da mesma forma o tempo para que os Cs ultrapassassem os As seria da mesma forma
Onde
Δs = distância percorrida correspondente ao tamanho de uma letra
VB = velocidade da fileira B para a esquerda
VC = velocidade da fileira C para a direita
Como o valor Δs é o mesmo para as duas fileiras, concluímos que o tempo transcorrido é o mesmo.
Calculando, segundo Zenão, os tempos de ultrapassagem entre as fileiras de letras Bs e Cs algo absurdo acontece.
Se ambos os trens possuem velocidade de módulo V, então, façamos o mesmo cálculo que tínhamos feito para a ultrapassagem da fileira de letras A, só que agora usaremos o deslocamento relativo entre os trens B e C.
Usaremos como valor de deslocamento, não apenas o Δs, mas 2·Δs, isso porque agora a quantidade de espaço deslocado corresponde à vacância de duas letras.
Como sabemos
Substituindo na equação (1)
Obtemos que o tempo transcorrido para que os trens se ultrapassem mutuamente deve ser
O intervalo de tempo não pode ser igual ao dobro do próprio intervalo de tempo.
O erro contido nesse suposto Paradoxo é o de que existe uma afirmação tida como verdadeira, que é a de que a velocidade é absoluta qualquer que seja o referencial de onde a estivermos medindo.
Está errado pois a velocidade que deve ser levada em conta é a da fileira de letras B em relação fileira de letras C.
Assim, consertando tal erro
E então
O resultado correto aparece porque escolhemos os referenciais de maneira correta. A velocidade entre as fileiras de letras Bs e Cs é uma velocidade relativa, e é isso que o Paradoxo do Estádio não levou em conta, assumiu que para qualquer que fosse o observador, ele mediria o mesmo valor de velocidade.
Não existe portanto um Paradoxo nessa situação, a falta de lógica surge quando Zenão toma como sendo absoluto o valor da velocidade em qualquer referencial em que ela é medida. Isso não é verdade porque a velocidade medida depende do próprio referencial utilizado.