O Momento Linear e a sua Conservação

Conservação do Momento Linear

Antes de discutirmos em que condição se dá a conservação do momento linear, ou seja, permanece constante num processo físico, vamos introduzir os conceitos de forças internas e externas.

Forças internas e Externas 

No exemplo dos dois patinadores, concluímos que o momento linear total do sistema é uma grandeza conservada, ou seja,

    \[ \vec{p}_1 + \vec{p}_ 2 = \textrm{ constante} \]

onde \vec{p_1} é o momento linear do patinador e \vec{p}_2 o da patinadora.

Este resultado é decorrente do fato de

    \[ \vec{F}_{1(2)} + \vec{F}_{2(1)} = 0 \]

ou seja, as duas forças formam um par ação – reação. Essas forças surgem devido a interação entre os dois corpos que fazem parte do sistema (o patinador e a patinadora). Por isto, estas forças são ditas forças internas.

Forças que atuam sobre esses dois corpos que fazem parte do sistema, mas que tem origem devido a interação destes com corpos externos, são chamadas de forças externas. Por exemplo, a força gravitacional (força peso) de cada patinador é uma força externa, assim como a força de atrito entre os patins e o gelo.

Numa situação mais geral possível, temos que as forças resultantes sobre o patinador e a patinadora são, respectivamente

    \[ \frac{d\vec{p}_1}{dt} = \vec{F}_{\textrm{res} (1)} = \vec{F}_{2(1)} + \vec{F}_{\textrm{ext}(1) } \quad \textrm{ e }  \quad \frac{d\vec{p}_2}{dt} =\vec{F}_{\textrm{res} (2)} = \vec{F}_{1(2)} + \vec{F}_{\textrm{ext}(2) } \]

Somando as duas equações acima membro a membro, obtemos:

    \[ \frac{d}{dt}(\vec{p}_1+\vec{p}_2)=\vec{F}_{1(2)}+\vec{F}_{2(1)}+\vec{F}_{\textrm{ext}(1)}+\vec{F}_{\textrm{ext}(2)} \]

Como \vec{F}_{1(2)}+\vec{F}_{2(1)}=0, temos:

    \[ \frac{d}{dt}(\vec{p}_1+\vec{p}_2)=\vec{F}_{\textrm{ext}(1)}+\vec{F}_{\textrm{ext}(2)} \]

A equação mostra a condição para que o momento de um sistema se conserve,  ou seja, a força resultante sobre ele deve ser nula. Fazendo  \vec{F}_{\textrm{ext (1)}}+\vec{F}_{\textrm{ext}(2)}= \vec{F}_\textrm{ext}, temos que:

    \[ \frac{d}{dt}(\vec{p}_1+\vec{p}_2)=\vec{F}_{\textrm{ext}} \]

Em vista deste resultado, pelo menos para um sistema formado por dois corpos, podemos enunciar a lei da conservação do momento linear:

O momento linear total do sistema formado por dois corpos  é conservado se a força total externa que age sobre eles é nulo.

 

A equação acima é vetorial, ou seja, deve ser válida componente a componente. Por exemplo, para a componente x,

    \[ \frac{d}{dt}(p_{1,x}+ p_{2,x}) = F_{\textrm{ext},x} \]

Caso só a componente x da força seja nula, dizemos que o momento linear total se conservou na direção x, mas não nas outras direções.

Exemplo: o pêndulo de Newton

O pêndulo de Newton é um dispositivo como mostrado na animação abaixo, facilmente encontrado em lojas de souvenir.

Resultado de imagem para pendulo de newton - gif

Se elevarmos uma esfera e soltá-la, ocorrerá uma sequência de colisões e somente a última bolinha irá subir, o restante permanecendo em repouso. Quando esta voltar, a bolinha solta inicialmente sobe e assim o movimento se repete diversas vezes, até que eventualmente todas as bolinhas entrem em repouso. Se soltarmos duas bolinha ao mesmo tempo, verificamos que as duas últimas sobem e assim por diante.

Nesta situação, evidentemente a força gravitacional age sobre todas as bolinhas e portanto não haverá conservação de momento linear na direção vertical. No entanto, como F_{\textrm{res},x} = 0, sendo x uma direção horizontal, verifica-se que:

    \[ \frac{dp_\textrm{tot,x}}{dt} =  F_{\textrm{res},x} = 0 \quad \Rightarrow \quad p_\textrm{tot,x} = \textrm{ constante} \]

Considerando a massa de todas as esferas iguais a m e que a velocidade da esfera inicial (a que soltamos) pouco antes da colisão é v , temos que p_i=mv. Haverá colisões sucessivas, sempre com a conservação do momento linear, de forma que a esfera final terá momento  p_f=p_i = mv. Como a velocidade é a mesma da esfera inicial, esta última conseguirá atingir a mesma altura e portanto o movimento se repetirá ciclicamente. Não indefinidamente, conforme se observa na prática, porque há forças dissipativas, de forma que a energia mecânica do sistema (soma das energias cinéticas e potencial, conforme visto Conservação da Energia Mecânica  somente é aproximadamente conservada.

O link abaixo leva a uma simulação com várias bolinhas sendo soltas ao mesmo tempo.

 

 

 

Há outras formas de soltar as bolinhas, conforme mostra o vídeo abaixo, mas em todas as situações, a componente horizontal do momento linear é conservada, ou seja, é a mesma antes e depois da colisão.

Vídeo: Conservação do momento linear num pêndulo de Newton.

Exemplo: movimento no espaço sideral

No exemplo acima, mostramos a conservação de momento linear (somente a componente horizontal) através de um processo de colisão. Nos dedicaremos mais a este tema na subpágina Colisões.

Uma análise bastante interessante da conservação de momento linear ocorre no espaço sideral. Como nesse lugar a força gravitacional é zero,  a força resultante externa é zero; estamos considerando aqui que a espaçonave ou a estação orbital, com todos os seus objetos e os astronautas formam o nosso sistema.

Suponha que durante os reparos na parte externa de um veículo espacial,  o astronauta realizou uma manobra e se desgarrou do veículo. Para o seu azar, o cabo que o mantém fixo ao veículo não estava preso sobre ele e portanto começou a  flutuar para longe da espaçonave. No desespero, ele viu que não tinha muito o que fazer, mas estava segurando uma chave inglesa. Nessa situação, como ele pode voltar para a nave?

Para responder essa pergunta não podemos esquecer que no espaço sideral não há ar, mas basicamente o vácuo, ou seja, ausência de matéria. Assim, não adianta ele tentar “nadar” na direção da nave, pois não terá um fluido para empurrar e consequentemente ele empurrá-lo de volta (a famosa terceira lei de Newton, que nos “permite” andar, nadar, etc.).

Evidentemente, todo astronauta tem bastante treino técnico, mas principalmente conhecimento de física básica. Sendo assim, sabendo-se que \vec{F}_\textrm{res}=0, o astronauta sabe que “pode contar” com a lei da conservação do momento linear.

Para voltar para a nave, ele arremessa a chave inglesa com a maior força que puder, no sentido contrário da nave.  Devido à conservação do momento linear total, o astronauta irá se movimentar no sentido contrário da chave, ou seja, irá se movimentar no sentido da nave.

Na seção seguinte, vamos nos dedicar a processos específicos onde há conservação de momento linear, que são os processos de colisões.

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